segunda-feira, 12 de maio de 2008

Brasil, ano zero

A quarta-feira dia 30 de abril será marcado como o início de um novo tempo nas finanças brasileiras. A agência de classificação de risco Standard & Poor's (S&P) anunciou, às 15:47 (hora de Brasília) que os títulos emitidos pelo Brasil podem ser comprados por qualquer investidor internacional. Mesmo o mais conservador dos fundos de pensão - pense no instituto de previdência dos contabilistas suíços, por exemplo - poderá ter títulos brasileiros em seu portfólio. Sim, é o famoso grau de investimento.

O que muda na vida do investidor? Para responder a essa pergunta, precisamos dividir a análise em dois momentos, curto e longo prazo.

No curto prazo

O grau de investimento foi uma surpresa. Uma pesquisa divulgada no dia 29 de abril, terça-feira, pede Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) indicou que 80% dos entrevistados esperava essa decisão apenas para 2009. "A antecipação surpreendeu o mercado", diz Nicola Tingas, economista-chefe da Febraban. Essa surpresa levou a Bolsa de Valores de São Paulo a subir mais de 8% e a romper, pela primeira vez na história, o nivel recorde de 68 000 pontos. Quase todas as ações do Índice Bovespa subiram, com exceção de Embraer e Sabesp. Alguns papéis, especialmente dos setores de varejo, construção civil e infra-estrutura chegaram a avançar mais de 15%.

O que fazer? Os analistas concordam em alguns pontos.

1) a pressão sobre os juros diminui, mas não muito. o grau de investimento significa, na prática, mais dinheiro disponível para investir e financiar o crescimento (e o consumo), mas ainda há algumas incertezas em relação à inflação, que são pouco influenciadas pela vinda ou não de dólares de fora. Por isso, os juros ainda devem continuar subindo. Pode ser que eles caiam mais cedo do que se esperava antes, mas não dá para descartar a hipótese de um Copom ainda apertando os juros.

2) o dólar deverá continuar caindo. A moeda americana apresentou oscilações mais pronunciadas nos últimos dias devido ao fim do mês e à tradicional queda de braço das tesourarias de bancos no mercado futuro de câmbio, mas a expectativa é de um dólar ainda pressionado para baixo. Ainda mais que o BC não terá tanto incentivo para continuar gastando reais para comprar dólares e recompor reservas. Segundo Joel Bogdanski, consultor de análise econômica do Banco Itaú, não se descarta a hipótese de o dólar romper, no curto prazo, a barreira psicológica de 1,60 real.

3) as ações deverão apresentar um bom desempenho no curto prazo. Os números desta quarta-feira contam pouco: o mercado está subindo pela pura euforia provocada pela notícia antecipada. Por isso, todos os papéis subiram, e ainda vão apresentar bons desempenhos nos próximos dias.

E no longo prazo? Leia mais no post abaixo

No longo prazo, o cenário para o investidor será igualmente positivo, mas com alguns pontos novos para se prestar atenção. "A grande novidade é que agora será possível comparar os preços dos ativos brasileiros com os internacionais", diz Nicola Tingas, economista-chefe da Febraban. "Não se espera uma queda de juros no curtíssimo prazo, mas agora é o momento para começarmos a pensar em um Brasil com taxas de juros próximas às dos países desenvolvidos". Ou seja, juros muito menores do que os que são praticados hoje pelos bancos.

Isso mudará toda a forma de trabalhar das empresas. Até há poucos anos, ganhavam dinheiro com certeza as empresas que eram cautelosas, que evitavam fazer dívidas e preferiam dinheiro em caixa a projetos de expansão em andamento. Isso mudou. Quando os juros recuarem para patamares próximos aos dos internacionais, os investidores terão de avaliar não só a capacidade do diretor financeiro da empresa de administrar o caixa, mas também a sabedoria do executivo-chefe em escolher as melhores apostas para ampliar as atividades.

Tingas, da Febraban, não discute setores, mas outros profissionais do mercado começam a listas as probabilidades. Será possível comparar os números da Petrobras com os de empresas petrolíferas internacionais, avaliar em pé de igualdade a Telemar e a Deutsche Telekom, medir a CPFL usando a mesma régua com que se mede a americana ConEdison. "Isso muda tudo", diz um gestor de recursos de um banco internacional. "Muitos clientes que não podem sequer olhar para o Brasil devido à barreira do risco agora podem vender a seus conselhos de administração a idéia de colocar dinheiro aqui."

Será o momento de os investidores olharem, de fato e com cuidado, para as perspectivas das empresas no futuro, e não seus preços no passado.