segunda-feira, 14 de abril de 2008

O nascimento da super bolsa

03.04.2008

A fusão da Bovespa com a BM&F, agora reunidas na Nova Bolsa, comprova o novo patamar da economia brasileira e abre espaço para que São Paulo brigue por uma vaga entre os maiores centros financeiros do mundo

Eduardo Nicolau/AE

Abertura de capital da BM&F: a fusão com a Bovespa era um plano antigo


Por Giuliana Napolitano e Daniella Camargos

EXAME

Uma das lições do século 20 é que não se faz uma potência econômica sem um grande centro financeiro. Não por coincidência, os cinco primeiros colocados no ranking das maiores economias -- Estados Unidos, Japão, Alemanha, China e Inglaterra -- são os países que hospedam as seis bolsas mais importantes do mundo. A união da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) com a Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), anunciada no final de março, colocou o Brasil na briga dos grandes centros financeiros globais. A Nova Bolsa, nome provisório da empresa, deu origem à terceira maior bolsa do mundo, com valor de mercado de 20 bilhões de dólares, atrás somente da Bolsa Mercantil de Chicago (conhecida pela sigla em inglês CME) e da bolsa alemã. Separadas, a Bovespa e a BM&F corriam o sério perigo de cair na irrelevância em uma época em que tamanho e musculatura são cada vez mais uma questão de vida ou morte no mundo financeiro globalizado. Com a união, a caça virou caçadora, e o plano agora é fazer da bolsa brasileira o pólo financeiro da América Latina, o que inclui, num primeiro momento, acordos e, mais tarde, a aquisição de bolsas sul-americanas. Entusiasmadas com a liquidez do mercado nos últimos anos, algumas das maiores bolsas do mundo, como a de Chicago e a de Londres, abriram o capital e deram início a um processo de consolidação nunca antes visto -- somente nos últimos dois anos, o total de aquisições movimentou 35,7 bilhões de dólares. É justamente para esse jogo de gente grande que a Bovespa e a BM&F agora se cacifaram. "O Brasil está ampliando sua presença no mercado financeiro global, e não tenho dúvidas de que o país terá um papel cada vez mais relevante", diz David Lewis, prefeito da City, coração financeiro de Londres. "Com a fusão, a Bovespa e a BM&F ganham escala, tornam-se mais competitivas e se credenciam para ser um dos grandes mercados globais", completa Charles Carey, vice-presidente da Bolsa Mercantil de Chicago.

A junção das duas companhias só será oficializada se for aprovada pelas respectivas assembléias de acionistas programadas para o final de abril, mas nos bastidores já começou a disputa para eleger o presidente executivo e o presidente do conselho da nova empresa. Os grandes protagonistas são justamente os maiores responsáveis pela criação da Nova Bolsa, os dois senhores que aparecem nas fotos publicadas nesta página: Raymundo Magliano Filho, presidente do conselho de administração da Bovespa, e Manoel Felix Cintra Neto, que ocupa o mesmo cargo na BM&F. Magliano Filho é carismático, expansivo e dono de uma sólida base intelectual. Foi responsável pela recente popularização da bolsa paulista, que passou a fazer parte do dia-a-dia de milhões de brasileiros. Também foi ele que deu impulso ao Novo Mercado, segmento que reúne as empresas com alto padrão de governança corporativa. Mais tímido e discreto, Cintra Neto é considerado um dos executivos mais brilhantes de sua geração. Transformou a BM&F numa bolsa enxuta, muito avançada tecnologicamente e com altos padrões de eficiência. Profissionais que já trabalharam com os dois dizem que nenhum deles nutre um carinho muito especial pelo outro, mas até agora essa antipatia mútua não atrapalhou a integração. À frente de suas respectivas bolsas, Magliano e Cintra Neto já haviam tentado juntar as duas instituições há alguns anos, mas os estudos não foram em frente. A discordância em relação ao valor de mercado de cada uma das bolsas acabou sendo uma barreira intransponível. Os executivos da BM&F achavam que a bolsa de futuros valia mais que a bolsa de valores. E, como era de esperar, o pessoal da Bovespa pensava justamente o contrário. A abertura de capital das duas bolsas, no ano passado, abriu o caminho para o entendimento anunciado há uma semana. O mercado determinou que a Bovespa valia mais, e a BM&F se comprometeu a pagar 1,2 bilhão de reais aos acionistas da bolsa de valores. "A integração faz todo o sentido, porque cria uma empresa mais competitiva e com condições de concorrer globalmente", diz Aldo Musacchio, professor da Harvard Business School e autor de diversos estudos sobre o desenvolvimento do mercado de capitais.

Uma brasileira entre as grandes
A Nova Bolsa é a terceira maior do mundo em valor de mercado e a sexta entre as bolsas de futuros
A Nova Bolsa (Bovespa e BM&F) é a terceira maior do mundo em valor de mercado...

(em bilhões de dólares)
1 - CME+Nymex
(Estados Unidos)
36
2 - Deutsche Börse
(Alemanha)
32
3 - Nova Bolsa
(Brasil)
20
4 - Hong Kong
(China)
17,5
5 - Nyse Euronext
(Estados Unidos)
17
6 - Nasdaq+OMX
(Estados Unidos)
14
7 - ICE
(Estados Unidos)
9
8 - Londres
(Grã-Bretanha)
6,3
9 - ASX
(Austrália)
6
10 - Cingapura
(Cingapura)
5,7
...e, entre as bolsas de valores emergentes, está bem posicionada para se transformar num pólo regional

(número de empresas estrangeiras listadas)
1 - Nova Bolsa
(Brasil)
9
2 - Hong Kong
(China)
9
3 - Korea
(Coréia do Sul)
3
4 - Bombaim
(Índia)
0
5 - Xangai
(China)
0
Como bolsa de futuros, a Nova Bolsa já é uma das líderes mundiais...

(em trilhões de contratos negociados por ano)
1 - CME+Nymex
(Estados Unidos)
3
2 - Korea
(Coréia do Sul)
2,7
3 - Eurex/ISE
(Europa)
2,7
4 - Liffe
(Holanda)
0,9
5 - CBOE
(Estados Unidos)
0,9
6 - Nova Bolsa
(Brasil)
0,8
...mas, como bolsa de valores, ainda tem um volume anual muito baixo...

(em trilhões de dólares)
1 - NYSE
(Estados Unidos)
35
2 - Nasdaq+OMX
(Estados Unidos)
17
3 - Londres
(Grã-Bretanha)
12,6
4 - Tóquio
(Japão)
6,5
5 - Deutsche Börse
(Alemanha)
4,3
6 - Nova Bolsa
(Brasil)
0,6
…o mercado, no entanto, prevê uma forte expansão do volume médio negociado por dia

(em bilhões de dólares)
Hoje3
Em cinco anos8
Em dez anos12,5
Fontes: Bloomberg e World Federation of Exchanges

Para o país, a criação da Nova Bolsa é a comprovação de que o capitalismo brasileiro subiu um patamar. Não é que uma economia não possa sobreviver sem uma bolsa local. Em teoria, as empresas podem buscar dinheiro em bolsas do exterior. Na prática, porém, é muito mais difícil para as companhias, em particular para as de menor porte, acessar o mercado financeiro se ele estiver sediado em outro país. "Sem uma bolsa local, não teríamos visto o número de IPOs que foram feitos no Brasil nos últimos anos", diz Pedro Moreira Salles, presidente do Unibanco. "Para as companhias médias do país, não é fácil abrir o capital em Nova York ou Londres, por causa dos custos e da necessidade de se adaptar às regras locais." Por aqui, tudo é mais tranqüilo -- metade das companhias que fizeram IPO na Bovespa no ano passado era de médio porte. O exemplo da Itália ilustra os problemas de quem permite que a bolsa local perca relevância e deixe de cumprir o papel de financiar as atividades produtivas. Com sede em Milão, a bolsa italiana sofreu constante desgaste ao longo dos últimos anos, o que culminou com sua venda para a bolsa de Londres, em junho de 2007. No ano passado, as ofertas de ações na Itália somaram apenas 11 bilhões de dólares -- cifra irrisória ante os 82 bilhões da bolsa inglesa, apesar de as duas economias terem porte semelhante.

Nos últimos anos, o Brasil aprendeu que um mercado de capitais avançado é a melhor "política industrial" que existe -- uma maneira eficaz de transformar idéias em produtos e serviços. Entre 1997 e 2006, a rentabilidade média das companhias abertas no Brasil foi de 11% ao ano, ante 8% das fechadas. Essa diferença tem duas explicações. Uma é o papel dos acionistas. "Companhias listadas na bolsa são avaliadas publicamente e mais cobradas por resultados", diz Ricardo Rochman, professor do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getulio Vargas, que pesquisou a rentabilidade das 10 000 empresas que fazem parte da base de dados da Serasa. A outra razão para a diferença de performance entre as empresas abertas e as fechadas é o maior acesso a financiamentos. Em 2000, os recursos obtidos com as ofertas de ações e de títulos de dívida representavam apenas 10% de todo o crédito concedido às companhias brasileiras, diz um estudo do economista Carlos Antonio Rocca. No ano passado, de acordo com estimativas, esse índice ultrapassou os 30%.

Além de ser uma engrenagem do capitalismo, uma bolsa poderosa transforma a economia da cidade em que está localizada. Em Nova York, os profissionais de Wall Street -- 5% dos trabalhadores -- são responsáveis por um quinto de toda a renda da cidade. Na Inglaterra, a importância da City, um pequeno espaço de 3 quilômetros quadrados localizado na capital inglesa, transcendeu a própria Londres e já representa 4% de todo o produto interno bruto do país. São Paulo, é verdade, ainda está longe dos exemplos londrino e de Nova York, mas a criação da Nova Bolsa tende a dar mais ênfase a um processo que já é visível: o da crescente pujança dos profissionais ligados ao mercado de capitais. No total, a cidade tem 120 000 trabalhadores no setor financeiro. A elite é formada por um grupo de 8 000 pessoas que trabalham em gestoras de recursos, corretoras e bancos de investimento, profissionais de várias partes do país e brasileiros vindos do exterior atraídos pelas oportunidades de São Paulo. De modo geral, é gente que fala mais de um idioma, está plugada em Nova York, Londres, Tóquio e Hong Kong e consome artigos de luxo. Nos últimos dois anos, profissionais do mercado financeiro foram responsáveis por metade das vendas da Bolsa de Arte do Rio de Janeiro, uma das casas de leilão mais importantes do país. Nas garagens dos prédios da avenida Faria Lima, o novo coração financeiro da capital paulista, os carros importados são maioria. "Não é por acaso que as cidades que são grandes centros financeiros globais estão entre as mais ricas e prósperas do mundo", diz Mark Yeandle, diretor da consultoria britânica Z/Yen, responsável pela elaboração do Índice de Centros Financeiros Globais, que aponta Londres, Nova York e Hong Kong -- nessa ordem -- como os principais pólos. "Esse é um setor que transpira dinheiro. Em razão da importância das finanças para os negócios, quem atua nesse segmento gera mais lucro do que um trabalhador da indústria", diz Yeandle.

O SISTEMA FINANCEIRO GLOBAL PASSOU POR uma profunda transformação nas últimas duas décadas e ganhou uma importância sem precedentes na economia mundial. Em 1980, o total de ativos financeiros -- ações, depósitos bancários, títulos públicos e de empresas -- somava 12 trilhões de dólares, o equivalente ao PIB global na época. Esse montante chegou a 167 trilhões de dólares em 2006, mais de três vezes o PIB do planeta. O crescimento foi acompanhado de um intenso processo de sofisticação, com o lançamento de novos produtos financeiros, como os fundos de hedge e de private equity. A concentração das bolsas de valores é um novo capítulo dessa transformação. Um dos principais exemplos desse movimento foi a fusão entre a bolsa de Nova York e a Euronext, em 2006. Mais recentemente, a Bolsa Mercantil de Nova York (Nymex) foi adquirida pela CME. É consenso entre os especialistas que essa onda de fusões e aquisições vai continuar até que menos de dez grandes bolsas concentrem quase a totalidade dos IPOs e das negociações mundiais de ações, contratos futuros e derivativos. Hoje, essas transações estão espalhadas por mais de 50 mercados -- que, em sua maioria, tendem a desaparecer ou, no mínimo, perder a importância. Ninguém arrisca dizer qual será a configuração final, mas as apostas sobre quem serão os líderes recaem sobre Nova York, Chicago, Londres, Tóquio e Hong Kong. Com a união entre a Bovespa e a BM&F, o plano é buscar um espaço entre essas gigantes.

Segundo cálculos dos executivos que negociaram a junção da Bovespa com a BM&F, as sinergias proporcionarão uma economia de custos de 25% até 2010. Historicamente, a fusão entre bolsas internacionais resultou numa redução de gastos entre 10% e 15% nos primeiros dois anos. No Brasil, a queda no custo das transações será bem-vinda, uma vez que a Bovespa tem uma das maiores taxas entre todas as bolsas do mundo. Cobra em média 0,064% sobre cada transação, ante 0,023% da bolsa de Hong Kong e 0,006% da bolsa de Londres. O problema hoje é a falta de escala. "Com mais visibilidade, a Nova Bolsa atrairá mais negócios e, conseqüentemente, esses custos cairão", diz Frederico Saraiva, analista do The Bank of New York Mellon Arx. Em termos tecnológicos, a superbolsa já nasce com o que há de melhor. O software da BM&F é o mesmo usado na de Chicago. "A bolsa de futuros brasileira é o estado-da-arte", diz o economista Antonio Delfim Netto, ex-ministro da Fazenda. O sistema de controle de riscos da BM&F, por exemplo, é um dos mais sofisticados do mercado internacional. Outro diferencial em relação à maior parte das bolsas de países emergentes são as regras de proteção ao acionista minoritário. As empresas listadas no Novo Mercado, mais alto nível de governança da Bovespa, são obrigadas, entre outras coisas, a estender a todos os acionistas as mesmas condições obtidas pelos controladores em caso de venda da companhia.

A city de São Paulo
A economia que gira em torno da Bovespa e da BM&F e emprega 120 000 pessoas
Bolsa
107 Corretoras
Faturamento 8 bilhões de reais(1)
17 Bancos de Investimento(2)
Faturamento 10 bilhões de reais(1)
134 Gestoras e distribuidoras
Faturamento 15 bilhões de reais(1)
30 Bancos(3)
Patrimônio 133 bilhões de reais
Private equity e Venture capital
Volume investido 9 bilhões de reais
70 Seguradoras
Faturamento 35 bilhões de reais


Os destaques do mercado brasileiro
Um dos negócios financeiros em ascensão no país é o de ofertas de ações. Em 2007, esse segmento captou 70 bilhões de reais
O volume de contratos futuros negociados na BM&F no ano passado somou 29 trilhões de reais

(1) Estimativa
(2) Só inclui as receitas de fusões, aquisições e ofertas de ações. Exclui os negócios das corretoras e das gestoras de recursos
(3) Com escritório central em São Paulo Fontes: Bovespa, BM&F, BC, bancos, corretoras, Sincor, Thomson Financial e Sindicato dos Bancários de São Paulo

À primeira vista, parece exagero uma bolsa brasileira ter valor de mercado superior ao de praças tradicionais, como Nova York ou Tóquio. De fato, o volume de negócios gerado pela Bovespa e pela BM&F dá a impressão de que o valor da nova empresa está inflado. Em 2007, o total de transações das duas bolsas somou 15 trilhões de dólares e ficou bem abaixo dos 35 trilhões de dólares contabilizados pela bolsa de Nova York, por exemplo -- que vale menos que a companhia brasileira. Um dos argumentos usados pelos analistas para justificar essa disparidade é o potencial de crescimento do número de empresas listadas. Em 2007, esse crescimento foi de 14% na bolsa brasileira, o dobro do crescimento da bolsa americana. Estima-se que até 2012 mais 150 empresas abram o capital, elevando o total de companhias abertas para 600. Outro fator que valoriza as ações da bolsa brasileira é a possibilidade de a economia brasileira receber a recomendação de grau de investimento, o que atrairia investidores hoje proibidos de colocar dinheiro em países considerados arriscados. "O valor de mercado da Nova Bolsa pode deixar alguns surpresos, mas existe uma explicação", diz Graham Dallas, diretor internacional da Bolsa de Londres. "Países como o Brasil estão ampliando sua participação na economia mundial enquanto as velhas economias vêm perdendo espaço. Por isso, é lógico supor que as companhias desses países também se tornem mais importantes."

Confiança na Bolsa
O estouro da crise financeira não diminuiu o entusiasmo dos investidores brasileiros no mercado de ações
O número de investidores pessoa física na Bovespa continua aumentando
200385 478
2005155 183
2006219 634
2007(1)456 557
(1) Em fevereiro de 2008, o número era 469 791
Fonte: Bovespa
No Brasil, o patrimônio dos fundos de ações oscilou, mas cresceu de julho de 2007 a fevereiro de 2008, período em que a crise externa se agravou

(em bilhões de reais)
jul/2007122
dez148
fev/2008144
Fonte: Anbid
A participação dos fundos de ações no total do setor de fundos de investimento é a mais alta dos últimos dez anos
19989%
20007%
20028%
20047%
20069%
200812%
Fonte Anbid

O que está por trás da expansão recente do mercado brasileiro é o amadurecimento dos investidores, especialmente das pessoas físicas. O número de pessoas que compram e vendem ações aumentou mais de cinco vezes entre 2003 e 2007, enquanto o patrimônio dos fundos de renda variável foi multiplicado por 4. Nos últimos meses, todo esse dinamismo foi posto à prova -- e passou no teste. Havia uma crença de que os investimentos na bolsa não passavam de uma euforia passageira. A crise internacional, que vem se agravando desde agosto do ano passado, não afastou as pessoas físicas da bolsa. Ao contrário: de lá para cá, o número de acionistas registrados na Bovespa aumentou e mais 4 bilhões de reais foram aplicados nos fundos de ações.

Esses dados são importantes porque mostram que a bolsa brasileira entrou, de fato, numa nova fase. Mas ainda não são suficientes para afirmar que a Bovespa está no mesmo patamar de países desenvolvidos. O valor de mercado das companhias abertas representa 62% do PIB brasileiro, inferior aos 99% do Chile e aos 160% da Inglaterra. Mesmo o número de pessoas físicas que compram e vendem ações aqui é pequeno: são 470 000, menos de 0,5% da população brasileira. Nos Estados Unidos, o índice beira os 20%. Para completar, o Índice Bovespa é muito concentrado em apenas um segmento. Cerca de 40% das empresas são produtoras de commodities. Obstáculos como esses terão de ser vencidos para que a bolsa paulista entre no pelotão de elite.

Na entrevista coletiva em que anunciaram a fusão, Magliano e Cintra Neto admitiram que a Nova Bolsa quer ir às compras. "Vamos participar ativamente da integração na América Latina", disse Magliano. No mercado externo, o que há de mais atraente é a bolsa do México, segunda maior da América Latina, atrás apenas da brasileira. A bolsa mexicana já iniciou um processo cujo objetivo é a abertura de capital -- o que facilitaria uma eventual aquisição. Com relação ao mercado de derivativos, a bolsa mais atraente é a de Rosário (Rofex), na Argentina. Antes mesmo do anúncio da união com a Bovespa, a BM&F já estava conversando com a bolsa argentina para uma possível parceria. No que depender do trabalho dos bancos de investimento com sede em São Paulo, as empresas latino-americanas vão aumentar sua presença na Nova Bolsa antes mesmo de qualquer acordo de parceria ou aquisição. O Credit Suisse e o Itaú BBA, dois dos maiores bancos de investimento que atuam no Brasil, têm engatilhadas 15 ofertas de ações de companhias estrangeiras. Estima-se que os IPOs de empresas latino-americanas na Bovespa somem cerca de 2 bilhões de dólares nos próximos 12 meses. "Os investidores de mercados emergentes preferem concentrar seus investimentos num único ambiente de negócios. A Bovespa já vinha assumindo o papel de centro de liquidez para as empresas brasileiras. É natural que ela passe a ser a opção preferencial de listagem para emissores da América do Sul", diz José Olympio, diretor do Credit Suisse. Trata-se de um movimento que também deve atrair investidores latino-americanos para a Nova Bolsa. A vontade de correr riscos e fazer opções ousadas -- os elementos-chave que impulsionam o sistema capitalista -- está criando raízes num continente que, não faz muito tempo, era célebre pelo populismo econômico e pela veneração ao estatismo. A criação da superbolsa e seus planos de expansão são o resultado dos novos tempos.