quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Parceria móvel Nokia une-se à Siemens

Parceria móvel Nokia une-se à Siemens e passa a oferecer, além de celulares, produtos e serviços de telefonia fixa e internet.

É a busca pelo bilionário mercado da “convergência”Por darcio oliveira e júlio wiziack, de Cingapura

Durante anos, a Nokia se gabou de crescer sozinha. Fusões e aquisições nunca fizeram parte do manual da empresa finlandesa, líder absoluta na venda de telefones celulares no planeta. Mas, no último dia 19, a Nokia se rendeu aos fatos: o mundo da telefonia cresce numa velocidade impressionante, os aparelhos estão virando commodities e quem não investir maciçamente em infra-estrutura, oferecendo um conjunto mais amplo de equipamentos e serviços de telecomunicação, perderá o bonde. E o bonde que passou mais rápido, no caso da Nokia, foi a alemã Siemens. As duas gigantes acabam de unir suas divisões de equipamentos de rede na recém-criada Nokia Siemens Network. A operação, que não envolverá troca de dinheiro, criará uma empresa com vendas anuais de 15,8 bilhões de euros. O controle será compartilhado pelas duas companhias, mas a sede será em Helsinque, quartel-general da Nokia, e o principal executivo também vem dos quadros finlandeses: Simon Bresford-Wylie. As parceiras prevêem ainda uma economia de US$ 2 bilhões, por conta das “sinergias” – inclua nessa sinergia a demissão de 9 mil funcionários. De qualquer forma, o mercado recebeu bem a notícia. Na terça-feira 20, as ações da Nokia subiram 0,6% e as da Siemens, 6,7%.


Wylie, presidente: “Com a fusão, as fronteiras na telefonia vão desaparecer”

Para os alemães, o acordo pode resolver de uma vez por todas o problema gerado com a deficitária Com Division – o braço responsável pelos negócios com telecomunicações. Não é de hoje que a Siemens tenta (e não consegue) recuperar a rentabilidade nessa área. A primeira baixa se deu em meados de 2005, quando a empresa abandonou a fabricação de celulares e repassou a atividade à taiwanesa BenQ. Na época, esse segmento era responsável por dívidas de 500 milhões de euros para a Siemens. Agora, além da fusão com a Nokia, a alemã também anunciou que pretende se desfazer da divisão comercial na área de telecom. Com isso, enterra de vez a Com Division e passa a se concentrar em setores que puxam para cima seus lucros: petróleo e energia.

Alívio do lado alemão, grandes perspectivas da parte finlandesa. “A Nokia deu um grande passo. Se eladada ao fracasso comercial”, decreta Richard Windsor, analista da Nomura International. Isso porque está em curso uma nova tendência mundial chamada “convergência”. Significa que, a partir de agora, os consumidores passarão a utilizar um único aparelho (seu telefone celular, por exemplo) para fazer e receber chamadas de linhas fixas e móveis. Para que isso aconteça, é preciso que as redes fixas e móveis estejam interligadas. “E estamos falando de algo muito maior do que simplesmente dizer ‘alô’ de um lado da linha e ‘quem fala’, do outro”, afirmou à
DINHEIRO Soren Peterson, vice-presidente mundial de novos negócios da Nokia, durante evento da empresa em Cingapura na semana passada. A convergência a que se refere Peterson prevê uma integração das plataformas de telecomunicações para que sejam prestados serviços de terceira geração como, por exemplo, transmissão de programas de rádio e televisão para celulares, além da interligação das redes corporativas de e-mail via celular (será possível baixar os e-mails da empresa no seu telefone). Tais serviços já vinham sendo testados em separado pela Nokia, mas com a fusão, a convergência será muito mais rápida.

As operações de rede da Siemens englobam equipamentos de linha fixa e sem fio.

Compartilhando esse “arsenal” com a Nokia, que sempre deu ênfase aos celulares, a Siemens também abre à sua parceira a porta de entrada para o crescente mercado de acesso à Internet banda larga. E ainda deixa a Nokia em posição de vender equipamentos que funcionam com redes fixas e sem fio num momento em que muitas operadoras telefônicas querem juntar suas redes. “As fronteiras estão desaparecendo na Nokia”, comemorou Wylie, o presidente da Nokia Siemens Network. Mas não é só no seu quintal, Wylie. Recentemente, a francesa Alcatel adquiriu a americana Lucent, formando um dos maiores grupos em infra-estrutura de telecomunicações, com receitas de US$ 21, 6 bilhões. E, na seqüência, a Ericsson comprou a americana Marconi, aumentando suas vendas para US$ 20,4 bilhões. “O próximo casamento deverá ser entre Nortel e Motorola”, aposta Eduardo Kiebel, analista da Frost&Sullivan. Quem ganha com essa consolidação, segundo Kiebel, é o consumidor. “Ele quer mobilidade e baixo custo e as fabricantes só poderão oferecer isso se unirem forças.”

No Brasil, a Nokia Siemens Network disputará a liderança de mercado com a sueca Ericsson, dona de um faturamento de R$ 1,7 bilhão. Mas por enquanto, segundo Aluizio Byrro, vice-presidente da área de telecomunicações da Siemens do Brasil, nada muda no dia-a-dia da filial. O processo de fusão será concluído no final deste ano e até lá as empresas continuarão operando separadamente. Na subsidiária da Nokia, os executivos preferiram o silêncio. O que se sabe é que os países da América Latina serão os grandes alvos das operadoras de celular – e, por tabela, de quem fornece serviços e equipamentos para elas. “Hoje, a penetração média de celulares na América Latina é de 47%. Em dois anos, deve chegar a 60%”, diz Walder Nogueira, analista-chefe de telecomunicações do Santander. “Quem tiver escala o suficiente para negociar com fornecedores e operadoras ficará bem posicionado.” (Colaboraram: Rosenildo G. Ferreira e Línham Cunha