quinta-feira, 27 de novembro de 2008

INDUSTRIA NAVAL


Uma indústria que renasce

O setor naval já morreu e reviveu várias vezes. Agora, uma encomenda bilionária da Transpetro abre mais uma tentativaPor elaine cotta

O primeiro estaleiro brasileiro foi o Ribeira das Naus, instalado no final do século XVI, na Bahia. O pontapé inicial, dado pelos portugueses, se espalhou e, em 1666, o Rio de Janeiro já possuía uma fábrica de fragatas. Desde então a indústria naval nacional viveu altos e baixos. Nasceu e morreu diversas vezes.


O último ressurgimento foi na terça-feira 20, quando o presidente da Transpetro, Sérgio Machado, oficializou a compra de US$ 1,27 bilhão em 16 navios-petroleiros. “Era o impulso que faltava para o Brasil voltar a ter uma indústria competitiva”, disse Ariovaldo Rocha, do sindicato da construção naval. O setor, que empregou 40 mil pessoas em 1979, terminou os anos 90 com menos de mil funcionários. “A intenção é resgatar a indústria brasileira para que ela tenha condições até de atuar no mercado internacional”, disse Machado à DINHEIRO.

A Transpetro vai comprar 42 novos navios, todos com pelo menos 65% de conteúdo nacional. Já definiu quem construirá 16 deles.

Quando Machado lançou a idéia de comprar os navios no País, no início de 2003, ele foi alvo de intenso bombardeio. Dizia-se que a indústria naval brasileira estava sucateada – o que era verdade – e que os preços tenderiam a ser muito mais caros. Ou seja: seria um subsídio distribuído pelo Tesouro a empresários ineficientes. Abertos os envelopes, a segunda premissa se confirmou em parte. Os valores dos navios eram de fato mais caros, mas a Transpetro não homologou as propostas. “Chamamos os consórcios para uma nova negociação e reduzimos os preços em 16%”, comemora Machado. A queda-de-braço, no entanto, continua com o principal consórcio, o Atlântico Sul, formado por grandes construtoras brasileiras e as estrangeiras Aker Promar e Samsung. “Ainda não atingimos um preço justo, mas vamos chegar lá”, diz Machado. Na conta final, as encomendas nacionais custarão, em média, 2% a mais, o que é pouco. Na prática, o caso Transpetro poderá se provar um dos raros exemplos de política industrial bem-sucedida no País.


Feitos no Brasil, os navios ficarão prontos em 24 meses. Além disso, serão gerados 15 mil empregos diretos e indiretos. “Desde 1984 o Brasil não construía navios desse porte”, lembra Raul Sansam, da Federação das Indústrias do Rio. Atualmente são fabricados no mundo 1.430 navios por ano. Mas a carteira de encomendas supera os 5,2 mil. Ou seja: há longas filas de espera. Foi pensando nesse mercado global que a MPE (Montagem e Projeto Industrial), do empresário Renato Abreu, decidiu entrar na disputa. O consórcio Rio Naval, formado também pelas empresas Iesa, Sermetal e a coreana Hyundai, liderado por Abreu, abocanhou um contrato de US$ 866 milhões para construir, ao todo, nove navios. “Nossa pretensão é desenvolver tecnologia para construir e exportar ”, diz Abreu. “Isso não será um vôo de galinha”, completa Franco Papini, superintendente da Onip (Organização da Indústria de Petróleo).
“Desta vez temos uma política industrial para o setor.” É o que parece.