quinta-feira, 27 de novembro de 2008

LG NOVOS RUMOS

O tsunami LGA empresa coreana reinventou todos os setores em que atua. Agora, vai fabricar notebooks no Brasil e provocar uma virada no mercado de computadoresPor joaquim castanheira

Assim, em saltos de proporções olímpicas, tem sido o crescimento da companhia no Brasil. Há apenas dez anos, a LG iniciava a construção de suas duas fábricas no Brasil – uma em Manaus, outra em Taubaté (SP). Desde então, a marca invadiu diversos mercados no Brasil e provocou em cada um deles o efeito de um tsunami. Com produtos inovadores e de alta tecnologia, a LG mudou o perfil do consumo e passou a brigar pela liderança em praticamente todas as suas áreas de atuação. Seu faturamento acompanhou o ritmo. Em 2004, as receitas bateram em US$ 800 milhões. Pularam para US$ 1,3 bilhão no ano passado e deverão chegar a US$ 2 bilhões no final de 2006. “O Brasil era um mercado fechado e, por isso, ansioso por novidades”, afirma Chang Bum Byun, vice-presidente de marketing e vendas da LG. “Nós atendemos a esse desejo e nos antecipamos à concorrência. Mas não caímos na tentação de oferecer produtos de baixo valor agregado. Nisso os chineses são imbatíveis.”

Fiel a esse mandamento, a LG fincou sua bandeira em um mercado depois do outro: tevês, aparelhos de DVD, equipamentos de som, celulares, condicionadores de ar, monitores de vídeo, etc. E não será diferente com a nova frente que os coreanos estão abrindo: a produção local de notebooks. A partir de julho, a fábrica de Taubaté passará a despejar no mercado cerca de três mil unidades de três diferentes modelos de computadores portáteis. Em 2007, a produção mensal aumentará para cinco mil unidades. A fabricação local permitirá um abatimento de 40% nos preços, em relação aos importados. Mesmo assim, a LG trabalhará na faixa mais alta desse mercado, com produtos na faixa de R$ 4 mil a R$ 10 mil. No final de 2007, seu faturamento nesse mercado poderá atingir R$ 300 milhões.

R$ 300 milhões é o potencial de faturamento da companhia no mercado de notebooks em 2007, quando fabricará sete mil unidades

Com essa decisão, a LG entra de vez no mais promissor naco do mercado de computadores. As vendas de notebooks representam 6% do total de computadores adquiridos no Brasil. Segundo um estudo da Intel, em 2005 foram comercializadas 300 mil máquinas, crescimento de 47% em relação ao ano anterior. Para 2006, espera-se um volume duas vezes maior. Em 2010, o volume de vendas chegará a 2 milhões de unidades. “Os notebooks são a menina-dos-olhos da indústria de computadores”, diz Reinaldo Sakis, analista da IDC. Nos últimos tempos, os preços dos desktops caíram fortemente, e os portáteis mantiveram margens mais atraentes.” Além disso, avalia Sakis, esses produtos estão menos sensíveis à ação do chamado ‘mercado cinza’. Para os próximos anos, com a entrada de novos fabricantes, haverá uma nova onda de redução nos preços. “Houve casos de queda de 40% nos valores praticados no varejo. É possível encontrar notebooks por R$ 2,5 mil”, diz Sakis. Segundo a LG, isso não assusta. “Há grande espaço de crescimento”, diz Cesar, como Chang é chamado no Brasil – os coreanos têm o hábito de adotar nomes locais ao desembarcar em outro país.

Antes de se arriscar nesse mercado, a LG utilizou a mesma receita que até hoje garantiu a multiplicação de receitas em seus 10 anos de Brasil. Primeiro, reduziu o período entre o lançamento de produtos na Coréia e o desembarque no Brasil. Era de até dois anos e hoje não passa de seis meses. A seguir, traz um lote do produto e o distribui nos pontos-de-venda pelo preço que teriam se fossem fabricados aqui. “Trabalhamos com margem negativa nesses casos”, diz Cesar. Para evitar perdas maiores, o período máximo de testes não supera três meses.

“Depois disso, já temos elementos suficientes para decidir se produzimos ou não”, diz Cesar. Os itens escolhidos são necessariamente novidades no mercado brasileiro: lavadoras e secadoras de roupa em um único aparelho, fornos portáteis com dupla função (elétricos e microondas), equipamentos de ar-condicionado com a tela frontal na forma de um quadro, miniadegas climatizadas com compartimentos para temperaturas diferentes, entre outras. “Com isso, nós criamos ou reinventamos um mercado”, diz Cesar. O segredo está em definir o passo seguinte assim que a concorrência começar a copiar a novidade. O caso das tevês de plasma é exemplar. A LG foi a primeira fabricante do produto no Brasil. Chegou a deter mais de 70% das vendas. Hoje, sua fatia caiu para 55%, mas a empresa se antecipou novamente. Enquanto os concorrentes se concentraram nas telas de 42 polegadas, os coreanos lançaram os tamanhos de 50 e 71 polegadas. “Nesse nicho temos 80% das vendas”, revela Cesar.

Essa política permite que 40% das receitas da LG venham de produtos lançados nos últimos dois anos e colocou a filial brasileira numa posição privilegiada entre as subsidiárias do grupo – do 73º lugar em 2003 saltou para a quarta posição, atrás da própria Coréia, EUA e China. Tal desempenho motivou o presidente mundial da companhia, Ssang-Su Kim, a desembarcar por aqui em sua primeira visita oficial ao Brasil (leia entrevista exclusiva ao lado). Na próxima semana, ele participará do lançamento de dois novos modelos de celulares da linha Black Label, cujo principal atrativo é o design arrojado e elegante. Nos cinco dias seguintes, ele visitará clientes, conhecerá as fábricas e se reunirá com executivos da companhia. Certamente em sua pauta estará um assunto recorrente entre os fabricantes de eletroeletrônicos: a tecnologia para a TV digital a ser adotada pelo Brasil. A escolha do padrão japonês parece decidida. E não é o que mais agrada à LG, publicamente adepta do modelo americano. “O investimento na adaptação de produtos e sistemas será maior do que se prevalecesse o padrão americano”, diz Cesar. Os fabricantes japoneses levam vantagem já que dominam a tecnologia que será adotada. “Será uma corrida contra o tempo”, afirma Cesar. “Uma situação à qual já estamos habituados.”