quinta-feira, 27 de novembro de 2008

BNDES >>> NOVO LIDER

BNDES estende a mão

O novo presidente do banco busca clientes de forma agressiva, com ênfase na infra-estrutura Por octavio costa

Um dos símbolos da Era Vargas, o BNDES completou 54 anos na terça-feira passada, com direito a coquetel no fim do expediente. À frente das comemorações, estava o economista Demian Fiocca, por coincidência o presidente mais jovem da história do banco. Ao discursar para os funcionários, Fiocca deixou claro que o desafio de hoje é tornar a cinqüentenária instituição mais ágil e dinâmica. Fiocca foi direto ao ponto:

“Devemos reconhecer que algumas vezes o BNDES é percebido como burocrático ou lento. É uma visão muitas vezes injusta. Mas nossa ação de fato pode ser melhorada.” Parece um conflito entre o novo e o velho, e é mesmo. O BNDES, a exemplo de outras crias dos anos 50, é corporativo e tem uma cultura operacional arraigada. Apesar dos orçamentos bilionários (o do corrente ano é de R$ 60 bilhões), preferiu sempre aguardar que os empresários batessem à sua porta do que ir atrás deles. A tradição sempre falou mais alto no interior da portentosa sede da Avenida Chile, no Centro do Rio. Demian Fiocca reconhece o rigor técnico e a vasta experiência em análise de projetos do banco, mas quer dar um passo adiante. É hora, prega ele, de “assumir uma postura empreendedora” e “fazer operações que não se realizariam pela mera inércia”.

Aos poucos, as idéias de Fiocca se impõem. E a inércia do BNDES vai sendo quebrada. Um bom exemplo pode ser visto na área de infra-estrutura. O BNDES quer arquivar, definitivamente, o mito de que o Brasil não tem vocação para transporte ferroviário. Os investimentos nos concessionários de ferrovias subiram de um nível de R$ 700 milhões em 2000 e 2001 para R$ 3,4 bilhões em 2005. Os desembolsos do BNDES no setor saltaram de menos de R$ 200 milhões em 2001 para algo próximo de R$ 1,2 bilhão em 2006. O pessoal empregado nas ferrovias cresceu de 19 mil para 28 mil, entre 2002 e 2005, enquanto a frota de locomotivas aumentou 26,3% nesses três anos. “Isso é resultado de nossa postura. Temos de ter criatividade. E agir com personalidade”, diz Fiocca. Além dos empréstimos para os concessionários e da recuperação de créditos, o BNDES chegou a financiar até a aquisição de vagões para locação. Como resultado, a produção de 7.500 vagões em 2005 foi 25 vezes maior do que a de 2002.

O presidente do BNDES, que se diz “um otimista” acima de tudo, garante que a maior instituição de fomento industrial do País tem identificado, de maneira geral, um sentimento favorável a novos investimentos. “Há muitos empresários planejando investimentos de grande porte, o que não acontecia há 20 anos.” Fiocca cita a siderurgia e a mineração entre os setores que planejam alto nível de investimentos para se adaptar às previsões de crescimento da demanda. E traz na ponta da língua um empreendimento já aprovado no setor de papel e celulose. O grupo Suzano/Bahiasul, graças a investimentos de R$ 4 bilhões, está construindo uma nova planta industrial na Bahia, que vai gerar 8 mil empregos e exportar US$ 500 milhões. O BNDES entra com R$ 2,4 bilhões. “Os setores de insumos básicos estão ressurgindo como não se via desde a década de 70”, comemora. Um dos motivos da confiança empresarial é, sem dúvida, o aumento das linhas de crédito à exportação. Só para este ano, o BNDES prevê um desembolso de R$ 5,8 bilhões no financiamento às exportações. Outra prioridade é o investimento em pesquisa.
Na semana passada, foi lançado o Funtec, um fundo voltado especificamente para a inovação tecnológica, com recursos de R$ 153 milhões. Trata-se de financiamentos a fundo perdido em três setores preferenciais: energia renovável de biomassa, principalmente etanol; software e soluções tecnológicas para agropecuária; e medicamentos. Os recursos serão liberados por meio de instituição sem fins lucrativos. Aposta-se também na reestruturação da área de mercado de capitais, esvaziada no governo Fernando Henrique. Acontece que para algumas empresas de pequeno e médio porte a injeção de capital pode ser mais conveniente do que a operação de crédito. E o BNDES também sai ganhando, já que, apesar do risco, o retorno da carteira de renda variável do BNDESPar é bastante superior ao da carteira de crédito. Planos, portanto, não faltam à atual administração. E todos estão saindo da gaveta. Isso permite a Fiocca fazer uma afirmação audaciosa: “A infra-estrutura está com o encaminhamento endereçado.” Ele confia, é lógico, na nova postura do BNDES. Menos passiva e mais ativa. Na expressão favorita de Fiocca, pro-ativa.
Quem é Demian Fiocca
Paulistano, 37 anos, Demian Fiocca é mestre em Ciências Econômicas pela USP. Dirigiu a área de pesquisa econômica da Telefônica e foi economista-chefe do HSBC. Incorporou-se ao governo em 2003, como secretário de Assuntos Internacionais do Ministério do Planejamento. Em 2004 assumiu a vice-presidência do BNDES, acumulando a função com a de diretor das áreas de Infra-Estrutura e Insumos Básicos. Foi alçado à presidência em março, em lugar de Guido Mantega. É casado, sem filhos, com uma historiadora. Mora de frente para a Praia do Leme. Metódico, chega ao banco pontualmente às 9 horas e é sempre o último a sair.