segunda-feira, 14 de julho de 2008

InBev compra a Anheuser-Busch e cria a maior cervejaria do mundo

InBev compra a Anheuser-Busch e cria a maior cervejaria do mundo
D. Kesmodel, D. K. Berman e D. Cimilluca, 14/07/2008

Anheuser-Busch concordou ontem à noite em ser comprada pela InBev por US$
49,91 bilhões, criando a maior cervejaria do mundo e colocando um ícone
americano nas mãos de uma gigante belgo-brasileira. As empresas planejam
chamar a nova companhia de Anheuser-Busch InBev. Anheuser deverá ter dois
assentos no conselho de administração, segundo pessoas próximas ao assunto.


O acordo, que está sujeito a aprovação dos acionistas, cria uma nova
companhia com vendas líquidas de US$ 36 bilhões. A SAB Miller, agora, fica
em segundo lugar no mercado mundial.


A operação é evidência de que mesmo com uma desaceleração no mercado de
fusões e aquisições, como resultado da redução no crédito, o apetite de
muitas corporações por compras ainda é forte. Também mostra que os bancos,
apesar das perdas que têm sofrido, ainda estão dispostos a abrir seus cofres
para ajudar a financiar uniões de grandes companhias.


A compra da Anheuser traz riscos à InBev. Muito do lucro da gigante de St
Louis vem do mercado americano, que cresce devagar. Embora a Anheuser, cuja
marca mais conhecida é a Budweiser, tenha quase 50% do mercado americano de
cerveja, o maior do mundo em lucros, a empresa tem lutado nos últimos anos
com fracas vendas. Cervejarias de grande volume enfrentam uma concorrência
cada vez mais intensa de microcervejarias, bem como de vinhos e bebidas
destiladas.


O acordo marca um fim abrupto para o que muitos esperavam ser uma novela
prolongada. Durante semanas, a Anheuser, de Saint Louis, no Missouri,
mostrou forte resistência a um acordo. Mas na semana passada a InBev,
sediada em Leuven (Bélgica), conseguiu engajar sua rival em negociações
amigáveis ao aumentar sua oferta em US$ 5 por ação, para US$ 70.


O pacto cria um colosso no mercado cervejeiro. As duas gigantes
comercializam cerca de 300 marcas nos cinco continentes. Juntas, elas formam
a maior cervejaria nas Américas e a número 2 na Europa e na Ásia, segundo a
InBev. Hoje, InBev e Anheuser são as números 2 e 3 do mundo,
respectivamente, em volume de vendas, atrás da britânica SABMiller.


O negócio é a segunda maior compra de uma empresa americana de bens de
consumo depois da aquisição, em 2005, da Gillette pela Procter & Gamble por
US$ 57,2 bilhões, segundo a Thomson Reuters. E é a terceira maior compra de
uma empresa americana por uma de outro país.


A InBev, dona das marcas Brahma, Antarctica, Quilmes, Stella Artois e
Beck's, informou que venderia ativos não essenciais de suas operações ou das
da Anheuser para ajudar a financiar a compra. Alguns analistas dizem que a
empresa pode vender a divisão de parques temáticos da Anheuser.


A InBev, que foi criada pela fusão em 2004 da belga Interbrew com a
brasileira AmBev, não tem muitas sobreposições com a Anheuser ao redor do
mundo. Assim, pode ser mais difícil cortar custos com a união de equipes e
operações industriais do que em outras transações do setor.


A aquisição pela InBev encerraria quase 150 anos de independência da
Anheuser. O diretor-presidente da empresa, August Busch IV, tataraneto do
fundador Adolphus Busch, disse a distribuidores em abril, antes que uma
oferta formal fosse feita, que a empresa nãoseria vendida enquanto ele
estivesse à frente dela. Mas a família Busch tem uma parcela pequena do
capital da Anheuser e os membros do conselho estavam voltados à tarefa de
fazer o que é melhor para os acionistas minoritários.


A Anheuser tinha poucas opções para evitar a InBev. Outras cervejarias
mundiais estavam ocupadas com grandes transações recentes, o que limita a
capacidade deles de fazer outro grande negócio. Outras transações também
poderiam provocar preocupações de autoridades antitruste nos EUA, enquanto
uma fusão com a InBev deve passar sem dificuldades devido à pequena fatia
que esta detém do mercado americano.


Em 25 de junho, o conselho da Anheuser rejeitou formalmente a proposta
original de US$ 65 por ação, em dinheiro. Mas deu a entender que estaria
aberto a uma oferta mais alta. Antes da proposta formal, Busch IV havia
alertado a InBev de que sua empresa não estava à venda e que ele e seu
conselho estavam comprometidos em continuarem independentes, segundo a
InBev.


Na semana passada, a InBev deu sinais de faria uma oferta hostil ao anunciar
um grupo de conselheiros para substituir o conselho atual da Anheuser. Esta,
por sua vez, processou a InBev num tribunal federal americano, acusando-a de
fazer declarações falsas sobre sua oferta inicial, entre as quais sobre o
financiamento dela. A InBev preferia fazer uma negociação amigável com a
Anheuser, em parte porque queria manter importantes executivos da americana.

O preço de venda representa um ágio importante sobre o valor das ações da
Anheuser. As ações ficaram em torno de US$ 50 por cinco anos. Até que os
rumores voltassem ao mercado, há alguns meses, o recorde histórico tinha
sido US$ 54,97, em outubro de 2002.